O Hospedaria elaborou um estudo exclusivo que mostra que o preço das passagens aéreas caiu até 33% nas rotas onde as empresas low cost começaram a voar. A maior redução foi verificada nas tarifas para Londres, mas as tarifas dos voos para Santiago tiveram redução de até 28%. A baixa não ocorreu apenas pela comercialização de suas próprias tarifas, mas especialmente pela reação das companhias aéreas concorrentes, que reduziram suas margens para não perder mercado para as novas entrantes. Confira os dados que apresentamos com exclusividade!
As companhias aéreas de ultra baixo custo, conhecidas como empresas low cost, começaram a operar timidamente no Brasil em 2018. Após a desregulamentação da franquia de bagagem despachada, o número de voos vem crescendo, chegando a 3,5% do total de voos internacionais operados no Brasil.
Já são quatro empresas estrangeiras atuando aqui: Norwegian (Reino Unido), Sky e JetSmart (Chile), além da Flybondi (Argentina). Ainda é pouco, se comparado a mercados onde esse modelo é bem difundido, como Europa, Estados Unidos e alguns países da Ásia, mas representa uma grande evolução para o nosso mercado.
Recentemente, essas empresas foram acusadas pelo Ministério Público Federal (MPF) de prática coercitiva e abusiva por iniciarem a venda de tarifas mais baratas que limitam a medida da bagagem de mão levada a bordo pelos passageiros a um item que fique embaixo do assento e não utilize o bagageiro que fica acima dos assentos (as tarifas que incluem bagagem de mão com dimensões maiores e bagagem despachada continuam sendo vendidas normalmente). Como a legislação vigente determina apenas o peso da bagagem que pode ser levada a bordo, e não a sua dimensão, o MPF pediu à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que proíba essa prática. A Anac tem até o dia 20 de fevereiro para se manifestar.
É fato que nem todos os consumidores gostam de voar com companhias aéreas low cost. Essas empresas costumam cobrar taxas para cada serviço que o passageiro for utilizar, como bagagem, refeições, check-in e até pela impressão do cartão de embarque. E, no fim das contas, nem sempre serão a opção mais barata, caso sejam somados todos os extras. Mas, mesmo quem não se beneficia diretamente desse modelo é favorecido pela concorrência que ele provoca. E isso ficou evidente nesse curto período em que elas começaram a voar no Brasil.
Eu, particularmente, me lembro com saudade da Webjet, a única empresa genuinamente low cost e low fare (de baixo custo e baixa tarifa) que chegou a operar voos domésticos no Brasil. Era só a Webjet entrar numa rota para as promoções das concorrentes se tornarem constantes. E, mesmo sem ter voado muito com a Webjet (se não me engano, foram umas 2 ou 3 vezes), ela me beneficiou demais! Eu aproveitava as tarifas que a GOL ofertava nas mesmas rotas da Webjet, para fazer frente às promoções da concorrente, e pagava quase o mesmo preço, mas viajava com os benefícios da categoria Smiles Diamante, com prioridade no embarque, assento com mais espaço e acumulando muitas milhas (na época, um trecho de R$ 49 chegava a render 2.000 milhas).
Vamos analisar os casos das quatro empresas low cost que hoje atuam no Brasil. Como o Melhores Destinos acompanha diariamente o preço das passagens aéreas em todas as rotas internacionais que partem do Brasil, fica fácil perceber o impacto que a concorrência tem em uma rota, especialmente se for uma companhia aérea de baixo custo.
Os gráficos a seguir mostram o menor valor disponível para compra nas datas indicadas, já com as taxas de embarque, considerando todas as companhias aéreas.
Rota: Rio de Janeiro x Londres
A Norwegian começou a operar voos diários do Rio de Janeiro para Londres no fim de março de 2019. Até então, a rota era operada apenas pela British Airways. A Latam e a British também ofereciam voos diários entre Guarulhos e Londres. Os preços mínimos de ambas as rotas girava em torno de R$ 3.200. Tão logo a Norwegian anunciou voos para o Brasil os preços diminuíram significativamente, como indica o gráfico a seguir:
Rotas: São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Florianópolis x Santiago
A Sky começou a operar voos para o Brasil em novembro de 2018, com as rotas ligando Santiago a Florianópolis e ao Rio de Janeiro. Em novembro de 2019, a empresa começou voos para Florianópolis. Em dezembro de 2019, foi a vez dos voos diretos entre Santiago e Salvador.
Notem como os preços dos voos entre São Paulo e Santiago caem após a empresa anunciar a rota, com um novo ciclo após o início da venda das passagens. O mesmo acontece nos voo do Rio de Janeiro para a capital chilena.
Dados: Hospedaria
É importante ressaltar que no fim de agosto de 2018 também houve uma redução no valor da taxa de embarque pelo Governo do Chile de 30 para 26 dólares, o que contribuiu para que o preço final para o passageiro ficasse um pouco menor. Mas quase todo o peso do reflexo no preço se deu pela redução nas tarifas aéreas.
Rotas: Salvador e Foz do Iguaçu x Santiago
A low cost JetSmart começou a voar entre Salvador e Santiago no dia 27 de dezembro de 2019, tendo iniciado as vendas do seu voo em setembro. Em janeiro desse ano a empresa iniciou seus voos entre Foz do Iguaçu e a capital chilena.
Em Salvador, a redução das tarifas ocorreu no mês em janeiro, após o início da operação da JetSmart.
Dados: Hospedaria
FlyBondi
Rotas: Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis x Buenos Aires
A FlyBondi concentra seus voos no Aeroporto El Palomar, antiga base militar na Região Metropolitana de Buenos Aires, mas o único conectado por trem com a cidade. Iniciou em outubro de 2019 voos entre o Rio de Janeiro e a capital Argentina, e para Florianópolis em dezembro. Recentemente, no último dia 24 de janeiro, fez seu primeiro voo para São Paulo, no aeroporto de Guarulhos. Em março a empresa começará a voar para Porto Alegre.
Apenas nas rotas para Buenos Aires ainda não observamos uma redução das tarifas. Como a Flybondi voa para um aeroporto diferente das suas concorrentes, não conseguimos integrar e comparar as tarifas da mesma maneira que as demais low cost. Além disso, vale destacar que a empresa tem uma frequência muito pequena se comparada as muitas companhias aéreas que têm voos entre o Brasil e Buenos Aires.
O mercado de aviação civil no Brasil tem espaço para uma presença maior de empresas de ultra baixo custo, tanto para voos internacionais, como também voos domésticos. A Anac e Ministério da Infraestrutura têm se esforçado para atrair novas empresas, especialmente em rotas nacionais, por terem convicção de que aumentar a concorrência é o caminho mais efetivo para reduzir o preço das passagens aéreas praticados no Brasil. Os países que tiveram êxito nesse sentido o fizeram reduzindo e não aumentando a regulação do setor.
O diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), Dany Oliveira, disse em entrevista ao Estadão que a falta de interesse imediato das low cost no mercado doméstico é explicada pelas dificuldades de custo do Brasil. “É muito difícil operar no Brasil. O custo é grande. Temos uma judicialização forte para todo o setor. Além disso, um dos combustíveis de aviação mais caros do mundo”, destacou. Soma-se a isso o risco jurídico de haver eventuais mudanças na regulamentação do setor, que possam impactar a venda de serviços avulsos praticada por essas empresas, como é o caso da polêmica cobrança pelas bagagens de mão e pela bagagem despachada, ambas contestadas pelo MPF.
Riscos à parte, recentemente a companhia aérea espanhola Air Nostrum apresentou um pedido para operar voos domésticos no Brasil. Mas ainda é cedo para afirmar se o pedido vai ou não sair do papel, já que tivemos o caso do grupo Globalia, que em 2019 chegou a iniciar o processo de certificação, mas depois vendeu sua operação aérea para a Iberia.
De todo modo, os dados revelam que mesmo que o serviço de uma empresa low cost não seja exatamente aquele que atenda o nosso perfil de viajante, sua existência, por si só, beneficia o setor com um todo, já que fortalece a concorrência e obriga as demais empresas a terem tarifas mais competitivas. O mesmo vale para empresas que inovam no serviço, mostrando que a competição não precisa se dar somente pelo preço!
Fica a nossa torcida por mais voos, mais empresas, mais concorrência, mais promoções e cada vez mais brasileiros viajando. E para que não tenha nenhum retrocesso legal ou regulatório que prejudique o aumento da competição nesse setor.