O que os Estados Unidos, Equador, Camboja e Panamá têm em comum? Talvez você não saiba, mas todos estes países adotam o dólar americano como moeda oficial. O euro também não é exclusividade da União Europeia: Kosovo, Montenegro e até a nossa vizinha Guiana Francesa usam a moeda nas transações do dia a dia.
Mas o que isso significa na prática? Um cambojano tem mais facilidade de viajar para os Estados Unidos só porque ganha em dólar? Curtir as férias no Equador é tão caro quanto em Nova York? Um croissant numa padaria da Guiana Francesa custa o mesmo que em Paris?
Acredite, é possível viajar barato gastando em dólar e euro! Há países onde o valor nominal da moeda é alto, mas o custo de vida é baixo. Acompanhe e planeje sua viagem!
Desde que lançamos nosso vídeo sobre 7 países incrivelmente baratos para viajar, recebemos diversos comentários bastante curiosos. Alguns leitores questionaram nossa decisão de incluir o Equador na lista, afinal este é um país dolarizado. E “dólar é caro”, não é mesmo?
Outros, no entanto, sugeriram Chile e Japão como destinos baratos, já que o real vale mais do que a moeda desses países. Até que ponto isso faz sentido?
Todos esses são erros clássicos, que confundem o valor nominal de uma moeda com o seu poder de compra. Dá só uma olhada na cotação do real (fev/2020):
Na tabela acima, podemos ver que o equivalente a R$ 1 compra 26 yenes japoneses, 185 pesos chilenos, quase 9 pesos uruguaios e inacreditáveis 3.333 rúpias indonésias. Parece muito, certo? Mas o que dá para comprar com tudo isso?
Lembra do seu R$ 1 que comprava 26 yenes? Pois é, você vai precisar de bem mais do que isso caso queira comprar um hambúrguer no Mc Donald’s do Japão. A princípio 400 parece um número alto, mas após a conversão na cotação atual (400 ÷ 26), o resultado é bem satisfatório: R$ 15,40. É o valor necessário, em reais, para comprar algo que custe 400 yenes japoneses.
Agora vamos sair do Japão e ir para o Equador, onde a moeda é o dólar americano. Atualmente o dólar está bem valorizado, sendo necessário mais de R$ 4 para comprar US$ 1! Então os preços no Equador são mais caros, certo?
Pois bem: um hambúrguer no Mc Donald’s do Equador pode custar US$ 2,99 — ou cerca de R$ 12,50, na cotação atual. O que aprendemos com isso? Embora o real “valha mais” do que o yene japonês e menos do que o dólar americano, os preços são mais baixos no Equador. De repente o Japão não é tão barato quanto parecia, e nem o Equador tão caro como você imaginava…
Claro, essa é apenas uma comparação limitada. Mas na prática, os preços dos hotéis, passeios e atividades turísticas funcionam sob o mesmo princípio. Não é a quantidade de dígitos ou zeros que determina o real valor de uma moeda, mas sim o que ela pode comprar. Isso se chama poder de compra.
Países onde a renda é maior costumam ser mais caros, em comparação com países de menor poder aquisitivo, onde os preços tendem a ser proporcionais aos baixos salários. Além disso, dependendo da cotação da moeda local, um país pode ser considerado caro para a população, mas barato para os turistas.
Como comparação, note que um norte-americano médio ganha cerca de US$ 900 por semana. Isso é mais de três vezes o que um cambojano ganha em um mês! O salário médio mensal no Camboja é de US$ 270. Já um equatoriano ganha um pouco mais, cerca de US$ 450 por mês.
Por isso, respondendo ao questionamento inicial, não, cambojanos nem equatorianos não têm nenhuma vantagem em ir para os Estados Unidos só porque ganham em dólar — exceto não precisarem trocar dinheiro na casa de câmbio.
A percepção dos custos de um país pode ser relativa. Não é incomum encontrar turistas que achem determinado destino “muito barato”, e outros que reclamem dos altos preços encontrados. Por isso, mais do que perguntar aos amigos e grupos de internet, é recomendável consultar tabelas comparativas de custo de vida. Sugerimos o site Numbeo e seu ranking.
Nele, é possível ter uma ideia dos custos estimados de cada destino, dividido por categorias como alimentação, transporte e hospedagem. O poder de compra varia de país a país. Enquanto em países desenvolvidos US$ 1 mal dá para uma Coca-Cola, em outros isso pode comprar uma refeição completa.
Existem ainda outros meios “alternativos” de entender os custos de vida de um país. Uma ferramenta interessante é o Índice Big Mac, que exemplificamos acima. O ranking informal criado pela revista The Economist é um maneira didática de entender o custo de vida de determinados países, baseado no preço do hambúrguer mais famoso do mundo.
Em 2019, os preços do Big Mac são mais altos na Suíça, países nórdicos e Estados Unidos; e bem mais baixos no México, África do Sul e Rússia. Uma reflexão quase exata do atual cenário econômico, onde estes últimos países tornaram-se mais baratos graças à desvalorização da moeda local frente ao dólar.
Alguns destinos baratos também adotaram legalmente o dólar como uma segunda moeda oficial. É o caso do Camboja e do Panamá, por exemplo. Ambos possuem outras moedas oficiais (riel cambojano e balboa panamenha), geralmente utilizadas para valores fracionados, como trocos em moeda. O dólar americano, porém, é preferencial e utilizado nas transações em papel-moeda.
Uma curiosidade: embora não estejam autorizados pelo Banco Central americano (FED) a imprimir dólares, países que utilizam o dólar como moeda oficial podem oferecer investimentos vantajosos com rendimentos na moeda americana. É o caso das contas poupanças no Camboja, por exemplo, com bancos que chegam a pagar 8% de juros anuais em dólar, atraindo investidores estrangeiros, como demonstra o site Nomad Capitalist.
Adotar uma moeda estrangeira como oficial pode ajudar a conter a inflação e estabilizar a economia, mas também limita a autonomia financeira do país. Por isso, muitos países preferem equiparar a moeda local ao euro ou dólar para ter mais liberdade. Isso chegou a a acontecer com o Brasil no início do Plano Real, quando R$ 1 chegou a valer exatamente US$ 1.
Alguns países do Caribe mantêm esse pareamento 1 por 1, mesmo sendo relativamente mais baratos que os Estados Unidos. Dois exemplos são as Bahamas e das Bermudas. Outros países, no entanto, podem atrelar suas moedas ao euro ou dólar à uma cotação fixa, sem variação. É o caso de nações caribenhas como Belize, Antígua, Santa Lúcia e Grenada, onde a cotação é a mesma há anos.
Quatorze nações africanas também atrelaram suas moedas ao euro à uma cotação fixa. São ex-colônias francesas que já adotavam a antiga moeda da França (franco), até a posterior troca pela euro. São elas: Benin, Burkina Faso, Camarões, República Centro-Africana, Chade, República do Congo, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Gabão, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo.
Por razões políticas ou embargos econômicos, um país também pode penalizar câmbios de determinadas moedas estrangeiras. É o caso do Irã e Cuba, por exemplo. Ambos preferem o euro como moeda de troca, embora o dólar americano seja aceito, sujeito a taxas e cotações desvantajosas.
O caso de Cuba, aliás, é emblemático: o país possui duas moedas oficiais, o peso cubano (CUP) e o peso cubano conversível (CUC). O CUC é oficialmente atrelado ao dólar (1:1), mas na prática há um desconto de 10% nos câmbios realizados em moeda norte-americana. Ou seja: ao levar dólares para Cuba, você automaticamente perde 10% só na conversão! O ideal é levar euros.
E se você achava que R$ 4 já era muito para comprar US$ 1, imagine os países onde a moeda local vale ainda mais? Veja por exemplo o caso de alguns países do Oriente Médio, como a Jordânia e o Kuwait:
Ao contrário do que estamos acostumados, nesses países o dólar vale menos. Um Dinar jordaniano é capaz de comprar US$ 1,41 e um Dinar kuwaitiano compra incríveis US$ 3,18! Que moeda forte, não é mesmo?
Mas, como você já aprendeu, isso não necessariamente significa que o país seja caro. A Jordânia é conhecida por ser um dos países mais baratos (e bonitos!) da região. Já uma simples conferida na tabela de custo de vida do Kuwait nos apresenta um país com refeições em restaurantes a partir de 2 Dinares (US$ 6,50) e bilhetes de transporte local a partir de 0,25 Dinares (US$ 0,80). Nada mal, hein?
Na hora de escolher o destino da sua próxima viagem, não se deixe levar por conceitos errados sobre o que é “barato” ou “caro”. Confira os preços dos hotéis, pesquise o custo de vida local, aproveite as promoções do Hospedaria e tenha uma experiência inesquecível, sem ir à falência!